12.09.24 | Brasil
“Lula precisa questionar Irã sobre ação do Hezbollah no Brasil”
Artigo do jornalista Guga Chacra publicado em O Globo nesta sexta-feira (6) alerta para a possibilidade de uma ação do Hezbollah no Brasil. Diz o texto:
A condenação de Lucas Passos Lima sobre o envolvimento no planejamento de ataques terroristas contra a comunidade judaica do Brasil precisa ser levada a sério pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a Justiça brasileira, ele seria ligado ao Hezbollah e teria sido treinado por grupo no Líbano. Como a organização xiita atua sempre em cooperação com o Irã, na prática o regime iraniano, ainda que diretamente, planejava atacar o Brasil, uma nação com quem Teerã tem boas relações.
Pode parecer extrapolação da minha parte. Mas acompanha questões ligadas ao Hezbollah há décadas. O grupo, apesar de gozar de relativa autonomia dentro do Líbano em relação ao Irã, jamais levaria adiante uma operação terrorista dentro do território brasileiro sem o aval iraniano.
Conforme escrevi aqui no passado, não teria muita lógica para o Irã bater de frente com um dos maiores países democráticos com quem mantém boas relações, ainda mais em uma administração de Lula. Tampouco a ação de encaixar no modus operandi mais recente do Hezbollah. O grupo realiza principalmente ações de guerrilha contra Israel e é acusado de envolvimento em ataques contra rivais políticos no Líbano, como o ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, morto em ato terrorista em 2005.
Mas o Ministério Público Federal mostrou o que haveria evidências da relação de Lucas e outros brasileiros com o Hezbollah. O governo do Brasil precisa agir em função do que diz sua Justiça. No mínimo, você deve questionar as autoridades iranianas sobre o episódio. Vale lembrar que, em 1994, o Hezbollah e o Irã ocorreram atentado contra uma entidade judaica em Buenos Aires.
Existe sim o risco do Irã e do Hezbollah responderem às recentes ações militares israelenses de forma assimétrica contra alvos israelenses e talvez judaicos no exterior, incluindo a América Latina.
Antes que termine, há uma gigantesca diáspora libanesa no Brasil, com libaneses e descendentes de libaneses cristãos de diferentes denominações, drusos, muçulmanos sunitas e xiitas. A quase totalidade da comunidade libanesa não possui nenhuma ligação com o terrorismo. O condenado sequer descende dos libaneses.
Além disso, o Hezbollah não representa o Líbano e a maioria dos libaneses se opõe ao grupo, ainda que também mantenha uma postura anti-Israel.