PERNAMBUCO | Recife
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A história dos judeus em Pernambuco comporta três momentos distintos: a presença de cristãos-novos nos engenhos de açúcar no período colonial, a criação da primeira comunidade judaica nas Américas, durante a ocupação holandesa no século 17, e a imigração e formação de uma comunidade judaica moderna no século 20.
A primeira comunidade judaica organizada na história do Brasil se estabeleceu em Recife, durante o período da ocupação holandesa, entre 1630 e 1654. A Holanda explorou os mais de 120 engenhos de açúcar existentes em Pernambuco, e numerosos holandeses judeus integravam a Companhia das Índias Orientais.
Durante o governo de Nassau, Recife foi considerada a mais cosmopolita cidade das Américas. Entre 1636 e 1640, os judeus fundaram em Recife a primeira sinagoga e centro comunitário judaico das Américas, Kahal Kadosh Zur Israel (Santa Comunidade Rochedo de Israel). Depois, fundaram em Maurícia a sinagoga Kahal Kadosh Magen. A união das duas, em 1648, contou com a assinatura de 172 integrantes da comunidade. Além da sinagoga (e da presença do rabino Aboab da Fonseca), existiam uma escola religiosa e um cemitério. As estimativas sobre o número de judeus no período holandês variam muito, entre 350 (cf. Egon e Frieda Wolff) e 1.450 (cf. Wiznitzer).
Um significativo número de cristãos-novos já vivia em Pernambuco nos séculos 16 e 17. A primeira visitação da Inquisição se estabeleceu em Olinda em 1593-1595. O processo mais célebre foi o do cristão-novo Diego Fernandez, marido de Branca Dias, acusada de práticas “judaizantes” e de manter uma “esnorga”, um lugar de culto judaico, em um período em que não havia liberdade de culto e as práticas judaicas eram coibidas.
Já no século 20, a imigração de judeus da Europa Oriental ao Recife começou na década de 1910, quando uma primeira casa de orações em uma residência particular começou a funcionar. Em 1918, foram fundados o Centro Israelita de Pernambuco e uma escola, a Iídiche Schul. O cemitério foi inaugurado em 1927, mesmo ano da Synagoga Israelita da Boa Vista. Em 1930, foi erguida uma sinagoga sefaradi.
Entre as instituições comunitárias, estavam cinco escolas, a entidade assistencial Relief, um clube, biblioteca e teatro iídiche, movimentos juvenis sionistas, organizações femininas Wizo e Pioneiras. Os judeus se aglutinaram principalmente nos bairros de Boa Viagem e Boa Vista, em uma comunidade que chegou a ter 1.600 pessoas.
Em 1992, foi fundado o Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco e, em 1994, a Associação para a Restauração da Memória Judaica das Américas. No ano 2000, o edifício onde funcionou a antiga sinagoga Kahal Kadosh Zur Israel durante o período holandês, na “Rua dos Judeus”, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan. Em 18 de março de 2002, ela foi reinaugurada. Sobre suas ruínas, foi criado um museu que visa documentar a história da vida judaica no Brasil. A data 18 de março foi escolhida para ser o Dia Nacional da Imigração Judaica.
O texto acima é do historiador Roney Cytrynowicz.
Dines, Alberto; Carvalho, Francisco Moreno de e Falbel, Nachman (org.). A Fênix ou o Eterno Retorno. Brasília, Ministério da Cultura, 2001.
Gonçalves de Mello, J. A., Gente da Nação: cristãos-novos e judeus em Pernambuco 1542-1654. 1990.
Kaufman, Tânia Neumann. Passos perdidos – história recuperada. A presença judaica em Pernambuco. 2001.
Wiznitzer, Arnold. Os judeus no Brasil colonial, São Paulo, São Paulo, Pioneira, 1966.
Wolff, Egon e Frieda. A odisséia dos judeus no Recife. São Paulo, CEJ, 1979.