“Precisamos de lideranças preparadas e capazes de mostrar que temos voz”, diz presidente da FIRS em apelo aos jovens - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.
Foto: Divulgação - CONIB

26.04.23 | Brasil

“Precisamos de lideranças preparadas e capazes de mostrar que temos voz”, diz presidente da FIRS em apelo aos jovens

O presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, Márcio Chachamovich, fala à CONIB sobre a importante atuação da FIRS, como elo entre a comunidade judaica e os órgãos públicos do estado, e anuncia o lançamento para este ano de um congresso, em parceria com a OAB-RS, sobre antissemitismo e discurso de ódio. Também deixa um recado de incentivo aos jovens para que ingressem na vida comunitária para dar continuidade ao trabalho desenvolvido ao longo dos anos por várias gerações pelo fortalecimento das instituições judaicas e contra o discurso de ódio e narrativas antissemitas. “Precisamos de lideranças preparadas e capazes de mostrar que temos voz”, diz ele. Abordou também a questão do antissemitismo estrutural e defendeu a educação e a punição para alguns casos como formas de evitar que novas tragédias, como a do Holocausto, voltem a acontecer.

Origem

Sou advogado, filho de pais e avós judeus. Na medida do possível, procuramos seguir as tradições. Minha família é oriunda da Bessarábia. Estudei em colégio israelita e meus filhos também estudam em escola judaica. Acho importante eles terem essa vivência judaica, não apenas pela religião, mas, principalmente, pelas tradições.

Eu atuo na comunidade judaica há muitos anos, desde os movimentos juvenis. Fui um dos fundadores do Movimento Betar aqui em Porto Alegre, no final dos anos de 1990. Fui diretor jurídico da FIRS por dois mandatos e agora assumi esse encargo importante.

Desafios e conquistas

A federação israelita desempenha um papel extremamente importante, porque ela é um elo entre a comunidade judaica e a sociedade maior do estado. E a federação tem esse papel institucional de representar a comunidade, as instituições comunitárias perante a grande comunidade. Somos o cartão de visitas do ponto de vista institucional. E essa importância da FIRS, ou de qualquer outra federação em outros estados, é ainda maior pelo seu caráter político apartidário. E a comunidade judaica como um todo, e como qualquer segmento social, tem suas preferências, sejam elas de direita, esquerda ou centro. E não cabe à federação julgar ou se filiar a qualquer corrente, porque representamos a todos. E, enquanto federação, temos um papel extremamente importante no sentido de manter um canal aberto com outras instituições e órgãos governamentais para que nos vejam como representantes da comunidade judaica. E, perante nossa comunidade, como o elo entre as instituições e os demais segmentos da sociedade, em especial os órgãos públicos – o Executivo, Legislativo e Judiciário. Aqui no Rio Grande do Sul e também em outras federações costumamos manter um bom relacionamento, tanto em órgãos políticos, como com outras instituições, com a OAB, por exemplo.

Temos um projeto em parceria com a OAB e outros segmentos da sociedade que deve sair neste ano para a realização de um congresso sobre discurso de ódio. Esse evento será feito na sede da OAB-RS e vai abordar esse tema e em um dos painéis a questão do antissemitismo. Já estamos com uma pauta bem avançada e faltam definir apenas questões de sintonia fina, como data, convidados e acertos de agenda. A ideia é de que esse evento seja feito de forma híbrida, facilitando a participação online daqueles que não puderem estar presentes. Isso também nos dá a oportunidade de alcançar um maior número de pessoas em todo o País.

A comunidade judaica gaúcha

A comunidade judaica do Rio Grande do Sul está concentrada, em maior número, em Porto Alegre. Somos em torno de 15 mil, dos quais entre 12 mil e 13 mil em Porto Alegre, e os demais espalhados em outras pequenas localidades, como Erechim, Passo Fundo, Santa Maria, Pelotas, Rio Grande.

Mensagem aos jovens

O que eu diria aos jovens, e me tomo como exemplo, é que nós temos a responsabilidade de tomar a frente das instituições comunitárias e também da federação para dar continuidade ao trabalho de buscar o fortalecimento de nossas representações. Pois são os jovens que irão dar sequência ao trabalho das gerações anteriores. E é extremamente importante esse engajamento hoje em dia, em momentos em que vivenciamos um recrudescimento do antissemitismo não só aqui no Brasil, mas em vários outros países. Aqui no RG do Sul a questão do preconceito é muito grande. E o papel dos jovens é justamente lutar contra isso. E lutar é representando, se fazendo representar, se posicionando de maneira firme diante dessas questões importantes. Não podemos nos calar. O nosso povo sofreu muito no passado e essas feridas ainda não estão cicatrizadas e talvez não devam ficar cicatrizadas para que as pessoas jamais esqueçam. E hoje vejo que muitas pessoas estão relativizando o que aconteceu no passado, tanto em relação ao Holocausto quanto a outros massacres. Precisamos confrontar discursos que relativizam o Holocausto e os números de vítimas da Shoá. E isso vem acontecendo em universidades, onde muitos jovens se deparam com esses questionamentos e é importante que eles estejam preparados e tenham embasamento para contrapor essas ideias. Esse é o papel dos jovens, o de confrontar, e por isso precisamos de lideranças capazes de mostrar a todos que estamos aqui e que temos voz.

Antissemitismo

Os dados que temos sobre antissemitismo costumamos encaminhar à CONIB, que centraliza essas informações e que há pouco tempo lançou um relatório sobre os casos no País. Mas o que mais me preocupa é que vários casos que não são relatados. Esses casos não são comunicados ao poder público e nem levados ao conhecimento da própria federação israelita e muitas vezes as pessoas que sofrem esse tipo de discriminação acabam se calando por medo, ou receio de alguma represália. Temos vários casos que chegam à federação e nós acompanhamos através de nosso departamento jurídico e levamos ao conhecimento das autoridades. Em todos esses casos costumamos acompanhar as investigações até o final para que essas denúncias sejam apuradas. Sabemos, porém, que a grande maioria de atos racistas e antissemitas acontecem nas redes sociais e isso dificulta as investigações sobre a origem das mensagens. Isso nos preocupa muito porque os jovens, que são os que mais usam as redes como Tik Tok, Instagram e outras, estão expostos a essas narrativas e sabemos que essas plataformas servem tanto para o bem como para o mal. Muitas vezes os jovens, sem perceber, leem uma informação nas redes e a tomam como verdade. Eles não costumam ir atrás da informação. E isso é muito perigoso, porque aquela mensagem acaba sendo assimilada. E a falta de questionamento é muito preocupante. Outra questão que me chama a atenção e também me preocupa é a do antissemitismo estrutural. Da mesma forma que existe o racismo estrutural eu também vejo isso com relação ao antissemitismo. E isso acontece nas piadinhas, nas ‘brincadeirinhas’ e outras formas sutis, como as narrativas de que todo judeu é rico, só gostam de dinheiro etc. Esses comentários podem parecer inofensivos, mas se trocarmos a palavra judeu por negro ou homossexual aí vira crime. Então por que não seria crime também com relação ao antissemitismo? Por que a sociedade relativiza e aceita essa questão? Sem querer minimizar as outras questões, o antissemitismo é uma forma de racismo. E todas as formas de preconceito são igualmente odiosas e merecem punição. O que eu questiono aqui é o porquê do antissemitismo ser tolerado.

A questão do preconceito como um todo passa pela ignorância, pela falta de conhecimento. E, nesses casos, a educação resolve. Aqui, nas escolas municipais, já há o ensino do Holocausto. E isso é importante porque, com o passar do tempo e com o desaparecimento dos sobreviventes, há o risco de o passado histórico ir se apagando. Temos a responsabilidade de não deixar que isso aconteça. Mas quem é racista e nega os fatos históricos não vai mudar nunca. E, para esses casos, só funciona a aplicação da lei. Somente com educação e punição podemos evitar que novas tragédias, como a do Holocausto, se repitam.


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