18.04.24 | Conib em ação
Delegação da CONIB em Israel ouve sobreviventes brasileiros no local da festa atacada pelo Hamas
A delegação de brasileiros que cumpre uma agenda oficial e de caráter humanitário no país percorreu nesta segunda-feira (15 de abril) algumas regiões que foram palco de atentados cometidos pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, no sul do país. Dois dias depois da escalada do conflito, com o ataque do Irã a Israel, os integrantes da comitiva estiveram no Kibutz Nir Oz, o mais atingido, e no espaço em que era realizada uma festa, com centenas de jovens, na data do atentado terrorista. Os sobreviventes relataram o que viram durante os atos extremistas que resultaram em 1.200 mortes, além de feridos graves e sequestros, com mais de 100 das vítimas ainda hoje mantidas como reféns.
Entre os que receberam a missão no sul de Israel, estavam os jovens brasileiros Rafaela Triestman e Daniel (Dany) Cohen, que participavam da festa rave atacada em outubro. Rafaela fez um relato do que vivenciou a partir do momento em que a música parou e os ataques começaram. “Estávamos na pista principal quando ouvimos os alertas. A partir deste momento, cada um buscou formas de sair do local. Eu e meu namorado corremos para campo aberto até conseguir uma carona, e, em seguida, pedimos para descer no primeiro bunker à margem da estrada. Logo, éramos 40 pessoas naquele espaço pequeno, atacadas por tiros e granadas.”
Há três anos em Israel, Rafaela sobreviveu escondida sob corpos, mas seu namorado, Ranani Nidejelski Glazer, de Porto Alegre, morreu no local, às vésperas de completar 24 anos. Daniel Cohen, outro sobrevivente brasileiro com quem a delegação se reuniu, disse que só conseguiu fugir porque foi um dos primeiros a sair do local de carro, testando várias rotas, para desviar dos terroristas. “Escapei dirigindo fora da estrada, pelo campo mesmo, e tive que tomar uma série de decisões rápidas, sob tiros”, explicou.
Só no local da festa de música eletrônica, visitado pela comitiva brasileira, a estimativa é de que tenham ocorrido 364 mortes, além de dezenas de sequestros. A outra vítima brasileira do ataque foi Bruna Valeanu, morta também aos 24 anos, e que morava em Israel havia oito anos. A sede da festa israelense foi transformada em um memorial ao qual comparecem, semanalmente, milhares de visitantes. O presidente da CONIB (Confederação Israelita do Brasil), Claudio Lottenberg, emocionou-se com os relatos. “Mesmo para mim, que estou envolvido desde o dia 7 de outubro, as visitas de hoje me chocaram profundamente. Israel, de fato, está se defendendo de terroristas, de bárbaros. O que me deixou mais impactado é que eu vi sinais claros de uma ação atroz, organizada com detalhes e executada com frieza e sem piedade. Temos a obrigação de mostrar ao mundo os riscos dos fundamentalistas para todos, e não só para judeus.” Lottemberg convidou os dois jovens para visitarem o Brasil, com o objetivo de que compartilhem seus relatos com a sociedade brasileira.
A situação hoje no kibutz Nir Oz
No kibutz Nir Oz, muitas residências podem ser observadas hoje com seu interior completamente destruído. A visitação é autorizada pelas próprias famílias. O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI) para a América, Roni Kaplan, que acompanhou a comitiva ao kibutz, fez um relato da dramática situação encontrada e do atendimento prestado depois dos ataques às moradias. O militar disse que, hoje, as famílias desalojadas vivem em local provisório, mas desejam retornar para o kibutz.
Um quarto dos mais de 400 moradores na época foram mortos ou sequestrados em 7 de outubro. Os brasileiros que integram a comitiva a Israel percorreram também o local conhecido atualmente como Cemitério de Carros, formado por um conjunto impressionante de veículos destruídos durante o ataque e que foram recolhidos ao local para perícia. Especialistas atuaram durante um longo período no local para coleta de DNA para, assim, assegurar a identificação das vítimas.
A programação da Missão a Israel desta segunda-feira incluiu também uma visita à Base Militar Urim, no sul do país. Os participantes da comitiva foram recebidos no local pelo coronel David Ram, que fez um relato minucioso sobre a situação real enfrentada na data dos ataques. O militar contou que nas primeiras horas do daquele 7 de outubro, mesmo sem ter clareza da dimensão do que estava ocorrendo, mais de mil soldados, a maioria da reserva, se apresentaram para lutar.
“Tínhamos dúvida sobre essa geração Tik Tok, que não tinha experiência em guerras e que, talvez, não fossem combater como nós (geração anterior). Mas, eles não apenas foram corajosos e entraram em Gaza, muitos por opção, como se tornaram heróis de 19 anos”, contou Ram.
Audiência com o presidente Isaac Herzog
A missão brasileira tem agenda prevista em Israel até esta quarta-feira (dia 17). A programação inclui audiência com o presidente de Israel, Isaac Herzog, nesta terça-feira (dia 16). O retorno da comitiva ao Brasil está previsto para quarta-feira (dia 17), depois de visita em Holon à organização Save a Child’s Heart (SACH), de atuação reconhecida pelo atendimento cardíaco pediátrico para crianças de países em desenvolvimento no Centro Médico Wolfson.
Da comitiva de brasileiros, liderada por Claudio Lottenberg, fazem parte ainda Daniel Borger, Marcia Borger, Danilo Knijnik, Fernando Lottenberg, Henry Chmelnitski, Jayme Garfinkel, Marcelo Blay, Nelson Sirotsky, Oscar Jaroslavsky e Salomão Ioschpe, além da jornalista Anik Suzuki.