20.10.25 | Mundo
Com ajuda de IA, historiador identifica nazista em ação durante o Holocausto
Um assassino nazista, que aparece em foto icônica de 1941 executando um judeu à beira de uma cova com outros corpos, foi identificado recentemente com ajuda da Inteligência Artificial décadas depois do fim da Segunda Guerra.
Até hoje não se sabe quem era o homem executado, mas quem segura a arma e comete friamente a execução é muito provavelmente Jakobus Onnen, das SS (Schutzstaffel ou esquadra de proteção), o braço armado do partido nazista, e a foto foi considerada como um "troféu nazista", segundo o historiador alemão Jürgen Matthäus.
As descobertas de Matthäus, que já chefiou o departamento de pesquisa do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, foram publicadas recentemente na revista especializada Zeitschrift für Geschichtswissenschaft da editora Metropol.
"Esse é um passo importante que nos aproxima da realidade histórica do Holocausto. São momentos em que os historiadores, se me permitem generalizar, pensam: aqui eu ampliei os limites do nosso conhecimento", diz o historiador em declaração divulgada pela imprensa alemã.
A foto em questão, intitulada O último judeu em Vinnytsia, tornou-se uma das imagens mais conhecidas do Holocausto desde que surgiu, em 1961, durante o julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann em Israel. Mas, até agora, pouco se sabia sobre o soldado nazista responsável pelas execuções e algumas das informações disponíveis acabaram se revelando falsas.
De acordo com a agência de notícias United Press International, que divulgou a imagem na época, a fotografia pertencia ao sobrevivente do Holocausto Al Moss, que vivia em Chicago. Ele teria recebido a foto em 1945, após sua libertação pelas tropas americanas em Munique, e a entregou à agência.
No entanto, durante muito tempo a imagem foi identificada incorretamente. Apenas em 2023, Matthäus descobriu que a fotografia não havia sido feita em algum momento entre 1941 e 1943 em Vinnytsia, na Ucrânia, como se pensava inicialmente, mas sim em Berdychiv, a cerca de 150 quilômetros a sudoeste de Kiev.
A descoberta veio através de uma feliz coincidência. Há alguns anos, o Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, em Washington, recebeu os diários de guerra do soldado austríaco Walter Materna, membro da Wehrmacht (Forças Armadas do regime nazista), que em 1941 estava estacionado em Berdychiv.
Neles, havia uma cópia dessa mesma foto, mas com qualidade significativamente melhor do que a cópia conhecida até então. No verso, estava escrito: "Final de julho de 1941. Execução de judeus pela SS na fortaleza de Berdychiv. 28 de julho de 1941". Uma anotação no diário de Materna, com a mesma data, na qual ele descreve o assassinato de centenas de judeus na mesma vala, reforçou a tese de que o local do crime não era Vinnytsia, mas sim Berdychiv.
Matthäus publicou os resultados de sua pesquisa sobre os diários de Materna no final de 2023 na revista especializada Holocaust and Genocide Studies. Na época, o jornal alemão Die Welt pulicou uma reportagem sobre a descoberta.
Por conta dessas publicações, Matthäus recebeu várias mensagens de leitores que afirmavam ter reconhecido o criminoso. Uma delas veio de um professor aposentado do ensino médio, que escreveu que a "horripilante imagem" impacta há décadas a sua família, porque mostra um membro da SS muito parecido com um tio de sua esposa, irmão de sua mãe. Segundo ele, era um tio que, “como membro do Comando C, estava 'no local' na época em questão", escreveu Matthäus na Revista de Historiografia.
Segundo Matthäus, Onnen nunca foi investigado porque morreu durante a Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1943. Além disso, sua irmã destruiu as suas cartas de guerra, impossibilitando qualquer reconstrução.
O professor que reconheceu o parente enviou para Matthäus fotografias antigas de Onnen. Com ajuda de um software de reconhecimento facial e de especialistas em inteligência artificial (IA), as imagens foram comparadas e foi possível determinar com alta probabilidade que Onnen é realmente o nazista da imagem de 1941.