21.11.23 | Mundo
“O desafio legal de Israel”
Editorial de O Estado de S.Paulo publicado no domingo (19) avalia a estratégia do Hamas, ao invadir o terrotório israelense e massacrar 1.400 pessoas, levando mais de 200 como reféns. O jornal também destaca a justa e legítima reação de Israel para proteger seus cidadãos e tentar resgatar os reféns. Leia a seguir a íntegra do texto:
Após seis semanas de guerra, a segunda fase da ação de Israel – a invasão ao norte de Gaza iniciada há três semanas – foi consumada. O sucesso militar intensifica os desafios políticos.
A crise do Hospital Al-Shifa encapsula esses desafios. As leis da guerra exigem evitar ataques a instalações civis, especialmente de infraestruturas médicas, exceto sob três condições: se servem para cometer atos hostis; se as forças invasoras emitem advertências; e se, após um período razoável, essas advertências não tiverem surtido efeito.
As alegações de que o hospital era uma base do Hamas são plausíveis. Uma verificação isenta ainda está pendente, mas as armas e o túnel revelados pelas forças israelenses parecem confirmá-las.
E as outras condições? No dia 12, as forças israelenses anunciaram uma rota de escape para civis do Al-Shifa e dois outros hospitais. Estima-se que 60 mil palestinos abrigavam-se nele. No dia da invasão, restavam só 1,5 mil. Os médicos dizem que não conseguiam se mover entre os prédios por causa da troca de tiros, indicando que o Hamas disparou contra os israelenses. Tudo isso sugere que o hospital era um alvo legítimo e foi legitimamente alvejado.
Mas com o seu controle surgem outros deveres. Israel afirma que está provendo combustível e suprimentos aos pacientes que restaram. Também precisa prover instalações emergenciais nos arredores e garantir refúgios aos que dali tiveram que sair.
Agora que o Hamas foi neutralizado no norte e quase 2 milhões de palestinos estão comprimidos no sul, Israel enfrentará desafios similares em larga escala: como obliterar o Hamas e minimizar os danos a civis?
As prometidas pausas humanitárias e o alívio às rotas de suprimento via Egito serão cruciais para legitimar suas operações. Israel precisará criar novas instalações emergenciais, levar pacientes a hospitais israelenses e estabelecer campos de refugiados.
Mesmo que os radicais no governo e parte dos israelenses se oponham a auxiliar os palestinos, isso é não só um imperativo moral, mas estratégico. Quando o Hamas massacrou barbaramente 1.400 pessoas e sequestrou mais de 200, seu objetivo era provocar uma retaliação bárbara de Israel e forçá-lo a invadir Gaza para libertar os reféns. Os terroristas queriam uma crise humanitária, confiando que a cada dia a opinião pública global esqueceria a barbárie do Hamas e se concentraria no sofrimento contínuo dos palestinos, degradando a imagem de Israel entre seus aliados e insuflando o radicalismo.
Os fanáticos islâmicos, assim como os esquerdistas, são irremediáveis. Antes que a primeira bomba caísse em Gaza, quando os cadáveres de inocentes ainda estavam quentes, essas hostes já haviam decidido que eles não eram inocentes, mas “opressores”, e que Israel era “terrorista” e “genocida”. Mas, para as pessoas sensatas, Israel precisa provar que – na direção diametralmente oposta ao Hamas – está fazendo tudo o que pode para proteger seus civis e aliviar o sofrimento dos inocentes no campo inimigo. Só assim consumará uma vitória não só militar, mas também política, sobre o Hamas.