30.04.24 | Mundo
“Os protestos nas universidades americanas passaram do ponto”
A advogada, escritora, dramaturga e diretora da CONIB Becky S. Korich abordou as manifestações anti-Israel nas universidades americanas. Leia o texto a seguir:
Aulas online, como na pandemia. O que começou como uma manifestação estudantil legítima nas universidades americanas tornou-se um protesto de fúria e intransigência, que acabou se desviando de seu próprio propósito. A Universidade Columbia, que foi o epicentro do movimento, tomou medidas "em prol da segurança dos estudantes" e determinou aulas híbridas até o fim do semestre. Se uma manifestação que se diz contra a guerra e a opressão representa uma ameaça à segurança dos alunos, ela é inegavelmente abusiva.
Ao anunciar a suspensão das aulas presenciais, a presidente da universidade, Minouche Shafik (que demorou para acordar), condenou o uso de linguagem antissemita e comportamentos intimidadores pelos manifestantes.
Existe uma diferença entre discordar ou condenar a política de Israel e apoiar o Hamas -ou questionar o direito de judeus existirem. Parte da retórica nos protestos ultrapassou essa fronteira. Voltamos à discussão: como preservar a liberdade de expressão e ao mesmo tempo impedir o racismo? De um lado, a lei americana protege o direito à ampla de liberdade de expressão, do outro, as universidades têm normas éticas de conduta.
O que acontece hoje é a antítese do que as universidades pretendem ser. É o oposto do intelectualismo, do diálogo, da investigação e da busca pelo conhecimento. As "mentes privilegiadas" dos estudantes (e dos tantos outros infiltrados) que protestam nessas universidades de elite são movidas por uma espécie de emoção irracional e transgressora, fruto de uma degeneração intelectual doutrinadora que não dá espaço ao conhecimento nem ao debate civilizado.
"Condenar as atrocidades do Hamas seria o mais benéfico para os palestinos", declarou o ativista pacifista palestino Hamza Howidy, que se opôs aos protestos nos campi das universidades americanas. Conforme reportagem concedida à revista Newsweek, ele diz que os movimentos prejudicam a própria causa palestina, embora defenda a libertação palestina e do povo de Gaza. "Eles não estão preocupados em proteger os palestinos. Eles estão em suas tendas por causa do ódio aos judeus e aos israelenses."
Howidy, originário da Cidade de Gaza, que há tempos luta pelo seu povo, já foi preso por se manifestar contra o Hamas. Ele não apoia os manifestantes que gritam slogans pela globalização da intifada e contra os seus cantos antissemitas e questiona: "Onde estavam estes jovens atenciosos quando o Hamas assumiu o controle de Gaza e massacrou centenas de habitantes de Gaza, ou quando o Hamas manteve 2 milhões de habitantes de Gaza cativos durante mais de 17 anos? Por que não se manifestaram sobre o fato de o Hamas ter conduzido os habitantes de Gaza para este conflito, que resultou em mais de 30 mil mortos e 80 mil feridos, segundo as autoridades municipais de Gaza?".
Como outros ativistas que pensam, Howidy entende que o conflito deve ser resolvido através de esforços em direção à paz, e não através da violência. Infelizmente não é isso que pensam os manifestantes.
É no mínimo estranho chamar de "pacíficos" os cantos raivosos e as batucadas incessantes que invadem as salas de aulas e passam a fazem parte do cenário diário das universidades. É um tipo estranho de paz tratar como heróis os membros do Hamas e pedir por mais mortes. É um tipo estranho de paz ouvir ameaças como "The 7th of october will be every day for you" (o 7 de outubro será todos os dias para você), "We are Hamas" (somos o Hamas), "Get the f*** out of here, all you ugly ass little Jewish people" (deem o fora daqui, todos vocês, pequenos judeus feios).