30.04.24 | Mundo
“Dilema universitário”
O jornal Folha de S.Paulo também comentou, em editorial publicado no dia 27, as manifestações anti-Israel nas universidades americanas, destacando que as instituições dos EUA devem proteger a livre expressão e coibir antissemitismo. Leia a seguir a íntegra do editorial:
Universidades de elite americanas estão num impasse desde o ataque do Hamas a Israel. De um lado, está a liberdade de expressão; do outro, o combate ao racismo.
Isso porque há relatos de que, nos protestos de apoio ao povo realizados recentemente em algumas instituições de ensino, proliferaram discursos antissemitas —apesar da presença de alunos judeus nas manifestações.
Na Universidade Columbia (Nova York), por exemplo, as aulas presenciais foram suspensas para garantir a segurança. Já militantes dizem que os ataques racistas são casos isolados perpetrados por pessoas externas ao movimento.
A lei americana, de fato, protege um conceito amplo de liberdade de expressão, que inclui até mesmo a permissão para passeatas nazistas. Mas as universidades também seguem normas éticas de conduta.
Nos últimos anos, tais normas tornaram-se mais rígidas com a ascensão do identitarismo, que imputam discurso de ódio muitas vezes de modo relacionado.
Segundo a Fire (Foundation for Individual Rights and Expression), que monitora a liberdade de expressão no meio acadêmico dos EUA, entre 2000 e 2022, foram registradas 1.080 tentativas de punir professores a partir de suas falas, das quais 65% resultaram em julgamentos. De 2020 a 2022, foram 509.
Além disso, as instituições foram pressionadas pelo Congresso e por investidores para coibir firmemente o preconceito contra os judeus.
Assim, tornou-se evidente que as universidades decidiram conter o antissemitismo, em detrimento da liberdade de expressão.
Estima-se em 250 o número de detenções, inclusive de professores, realizadas nos últimos dias em instituições de ensino pelo país.
É temerário que uma força policial seja acionada para reprimir protestos em universidades, ambiente por excelência do pensamento crítico e livre. Do mesmo modo, a academia precisa rechaçar qualquer forma de racismo.
O ideal, claro, seria que os manifestantes legítimos de apoio aos palestinos não fossem contaminados pelo antissemitismo. Por agora, entretanto, as universidades vivem um dilema de difícil solução.