14.05.24 | Mundo

“O sionismo pode sobreviver à guerra de Israel contra o Hamas?”

Sob o título acima, Yuval Noah Harari, professor israelense de História e autor do best-seller internacional “Sapiens: Uma breve história da humanidade”, analisa, em artigo no jornal O Estado de S.Paulo desta terça (14), os desafios à ideologia sionista. Diz o texto:

Enquanto Israel marca seu 76º aniversário esta semana, sob a sombra do massacre de 7 de outubro e da guerra em Gaza, a ideologia sionista subjacente ao país está sendo questionada. Vários grupos distorcem e transformam o termo “sionismo” em arma, descrevendo-o como uma forma maligna de tribalismo ou mesmo de racismo. Para compreender os acontecimentos recentes em Israel, bem como a história tumultuada do país, é necessário esclarecer o que o sionismo realmente significou ao longo dos seus 150 anos de existência.

Nascido no final do século XIX, o sionismo moderno é um movimento nacional semelhante aos que surgiram no mesmo período entre gregos, poloneses e muitos outros povos. A ideia central do sionismo é que os judeus constituem uma nação e, como tal, têm não apenas direitos humanos individuais, mas também um direito nacional à autodeterminação. Nada nesta ideia sionista implica que os judeus sejam superiores aos outros, sejam eles gregos ou poloneses – ou palestinos. A ideia de que os judeus constituem uma nação tampouco nega necessariamente a existência de uma nação palestina com direito à autodeterminação, ou os direitos humanos dos palestinos individuais.

A equiparação do sionismo com o racismo — uma alegação que persiste muito depois de uma resolução das Nações Unidas de 1991 ter revogado uma resolução anterior nesse sentido — é, portanto, não só falsa, como também está manchada de racismo. Proibir o sionismo implica que os judeus não podem ter aspirações nacionais legítimas, ao contrário de todos os outros povos. Quando um dos líderes dos recentes protestos na Universidade Columbia afirmou que “os sionistas não merecem viver”, estava, na verdade, defendendo a ideia de que os judeus que nutrem aspirações nacionais deveriam ser sistematicamente mortos. Quando outros manifestantes entoaram slogans como “Não queremos sionistas aqui”, talvez pensassem que estavam manifestando hostilidade contra o racismo, mas na verdade apelavam ao assédio e à expulsão de quaisquer judeus que tivessem sentimentos nacionais.

É claro que alguns sionistas – tal como os adeptos de todos os outros movimentos nacionais – podem ser racistas ou intolerantes. As relações entre os países são frequentemente repletas de tensões, ódios e até atrocidades, especialmente quando eles têm exigências territoriais conflitantes. Quase todos os movimentos nacionais na história incluíram linhas-duras que fizeram exigências maximalistas e moderados dispostos a fazer concessões. O sionismo não é exceção.


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