18.07.24 | Mundo

“O pedido de justiça 30 anos depois”

Em artigo em O Globo nesta quinta-feira (18), o presidente do Congresso Judaico Latino-Americano (CJL) e membro do comitê do Congresso Judaico Mundial (CJM), Jack Terpins, comenta a participação do Irã, através de seu aliado Hezbollah, no atentado contra a AMIA e no ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro. Leia a seguir a íntegra do texto:

Às 9h53 do dia 18 de julho de 1994, o relógio parou em Buenos Aires. Uma nuvem de fumaça se ergueu dos escombros do prédio da Associação Mutual Israelita da Argentina (Amia). Esse foi o cenário do maior atentado da História da América Latina, que vitimou 300 pessoas e deixou 85 mortos.

É claro afirmar que essas pessoas eram de maioria argentina — e judeus. O mesmo pode-se dizer do atentado à Embaixada de Israel na Argentina, ocorrido dois anos antes.

O Irã foi o mandante do atentado à Amia e, completados agora 30 anos, os responsáveis por essa tragédia ainda não foram punidos. Na maior instância judiciária, foram reconhecidos os autores. No entanto não foram presos. Pais e familiares, amigos das vítimas e toda a comunidade judaica do planeta seguem pedindo justiça!

O prosseguimento das investigações foi falho. A Corte da OEA atribuiu a responsabilidade à Argentina, afirmando que o país não fez nada para evitar.

O grupo terrorista Hezbollah foi identificado como o autor da ação. O mesmo Hezbollah que vem atacando sistematicamente Israel e, com o Hamas, clama hoje pela aniquilação do Estado judeu.

O 7 de outubro de 2023 trouxe à tona o pior do ser humano no sangrento ataque daquele dia. E a continuação desse ataque, que abalou o povo judeu, se dá hoje pelos 120 sequestrados em poder do Hamas (e alguns corpos também em poder deles). Essa é uma visão limitada do 7 de Outubro, porque tivemos 1.200 mortos, muitos dos quais jovens que estavam no Festival Nova, muitos feridos, ainda em recuperação, e uma guerra em curso. Se permitem dizer, esse horror ainda vai além. Fazendo uma conta lógica, passaram nove meses do ataque, e já foi provado que as mulheres sequestradas e também as mortas ou libertadas foram vítimas de estupro. Isso acontece ainda no cativeiro, segundo relato das que foram soltas. É bem provável que estejam dando à luz agora. O que será desses bebês?

Essa é uma grande ferida no seio dos israelenses, tão castigados por sucessivos atentados, mas que nunca teriam imaginado algo de tal proporção.

Segundo pesquisas, depois do 7 de Outubro o antissemitismo cresceu 1.000%. Temos visto, desde então, manifestações que pregam a destruição de Israel e aplaudem o Hamas, sem entender o que fazem, mobilizadas por uma onda crescente de ignorância. A situação lembra o 9 de novembro de 1938, a Noite dos Cristais, quando estabelecimentos judaicos foram destruídos por nazistas e seus simpatizantes.

Esse panorama evidencia que o antissemitismo ainda se manifesta, mesmo que praticado por quem não sabe o que está fazendo, mas faz. Segundo a Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês), “o antissemitismo é uma determinada percepção dos judeus, que pode se exprimir como ódio em relação aos judeus. Manifestações retóricas e físicas de antissemitismo são orientadas contra indivíduos judeus e não judeus e/ou contra instituições comunitárias e as instalações religiosas judaicas”. Assistimos a isso acontecer em universidades americanas e, de forma não tão acentuada, nas brasileiras.

Alguns estados brasileiros, como São Paulo e, mais recentemente, Minas Gerais, assinaram um documento em que aceitam e adotarão a definição de antissemitismo da IHRA. A campanha Pin for Peace pede a paz e diz “não” ao antissemitismo, criando uma alternativa a essa malfadada postura. Outras ações de conscientização também vêm sendo feitas. O importante é garantir a paz, explicar o que é ser judeu, combater o antissemitismo. E, para isso, o Congresso Judaico Latino-Americano, entidade que presido, segue vigilante.

Diante do exposto, só posso fazer minhas as palavras de Anne Frank, menina judia perseguida e assassinada pelos nazistas:

— Eu ainda acredito na bondade humana.


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