22.07.24 | Mundo
Jogos reacendem trauma do ataque nas Olimpíadas de Munique, em 1972
A cena com a imagem do terrorista do grupo palestino Setembro Negro na sacada de um dos prédios da Vila Olímpica de Munique, em 5 de setembro de 1972, ainda está viva na memória do mundo e na história dos Jogos Olímpicos. O rosto do terrorista coberto com uma balaclava virou símbolo daquele terrível episódio, ocorrido no apogeu da Guerra Fria.
E o momento atual, com o crescimento do antissemitismo no mundo, traz de volta essas lembranças do passado e aterroriza israelenses que ainda sofrem com ataques terroristas, como o de 7 de outubro, em que mais de mil pessoas foram brutalmente assassinadas pelo Hamas e mais de 200 sequestradas, muitas das quais ainda continuam em cativeiro em Gaza.
Na madrugada do dia 5 de setembro de 1972, oito terroristas do grupo palestino Setembro Negro invadiram o alojamento dos atletas israelenses em Munique e mataram dois esportistas.
Três membros da delegação conseguiram escapar, mas nove foram tomados como reféns pelos terroristas, que se identificaram como membros do grupo Setembro Negro - o nome faz referência ao mês dos sangrentos conflitos entre o Exército da Jordânia e membros da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 1970.
Os terroristas na Vila Olímpica exigiam um avião e a libertação de 200 palestinos das prisões em Israel, reivindicação rejeitada pela então primeira-ministra israelense, Golda Meir.
As forças de segurança alemãs tentaram negociar um acordo, mas os terroristas não aceitaram o pagamento de um resgate, nem a proposta do secretário do Interior da Baviera, que se ofereceu como refém em troca dos atletas. Eles insistiram na libertação dos presos palestinos.
Quando o atentado ocorreu, os Jogos Olímpicos de Munique de 1972 já estavam na segunda semana. O Comitê Olímpico Organizador da Alemanha havia relaxado na segurança, para evitar uma ideia de militarização nas cidades alemãs. O Comitê não queria repetir a imagem deixada nos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, quando o ditador nazista Adolf Hitler a usou em seu benefício.
Enquanto amanhecia, um grupo de agentes da polícia alemã se aproximaram do prédio pelo telhado. Contudo, todos os quartos tinham televisão e a luz não havia sido cortada. Assim, pela TV, os terroristas viram a chegada dos policiais e exigiram sua retirada, que foi prontamente atendida para evitar retaliações contra os reféns. Os negociadores então pediram para falar com alguns reféns. Kehat Shorr e Andre Spitzer se aproximaram da janela, mas com armas apontadas para eles, não puderam responder muita coisa. E pelo que se podia ver naquele momento, alguns reféns apresentavam marcas de agressões físicas.
Após várias tentativas fracassadas de negociação, os terroristas e os reféns chegaram ao aeroporto de Fürstenfeldbruck, nos arredores da capital bávara, de onde acreditavam que levantariam voo.
Na realidade, era uma armadilha da polícia. Foram ouvidos tiros, explosões e um helicóptero se incendiou. Apenas na madrugada do dia 6 de setembro o mundo ficou sabendo que os nove reféns israelenses, cinco terroristas e um policial haviam sido mortos.
Apesar da resistência inicial, o Comitê Organizador das Olimpíadas decidiu suspender os jogos. Uma cerimônia foi feita no Estádio Olímpico de Munique, diante de 80 mil espectadores e 3 mil atletas. Autoridades de vários países condenaram o ataque – o pior já ocorrido num evento esportivo.