04.06.25 | Brasil

“O fantasma do antissemitismo”

A Gazeta do Povo comenta, em editorial, a justa preocupação dos judeus com o crescente antissemitismo. “Os dados e os episódios recentes devem servir de alerta. O antissemitismo é uma ideologia assassina, que matou em massa no século XX e continua a ferir, perseguir e ameaçar judeus ao redor do mundo. Sua manifestação moderna, que já faz vítimas ao redor do mundo, não pode ser tolerada, devendo ser desmascarada e combatida com firmeza”. Leia a seguir a íntegra do texto:

Dois atentados recentes nos Estados Unidos, ambos motivados por ódio à comunidade judaica, mostram que o antissemitismo não é uma lembrança do passado – ele está vivo, alimentado por ideologias radicais, discursos de intolerância, desumanização e uma crescente banalização da violência.

No último domingo (1º), em Boulder, no Colorado, um grupo pró-Israel chamado Run for Their Lives foi alvo de um ataque brutal durante uma caminhada pacífica em solidariedade aos reféns israelenses mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza. O agressor, identificado pelo FBI como um egípcio que vivia ilegalmente nos EUA, lançou coquetéis molotov e usou um lança-chamas improvisado contra o grupo, ferindo oito pessoas – algumas gravemente. Testemunhas relataram que o homem gritava “Palestina livre” enquanto promovia o ataque.

O episódio se soma a outro, ocorrido semanas antes, em Washington. Um cidadão nascido em Chicago foi preso acusado de matar dois funcionários da embaixada de Israel – um jovem casal – após abrir fogo contra um grupo que deixava um evento do Comitê Judaico Americano. Ao ser detido, o criminoso repetiu a mesma expressão usada em Boulder: “Palestina livre”. Em ambos os casos, o alvo era claro: judeus ou quem com eles se solidariza.

Tais casos não são aleatórios. Desde o bárbaro massacre perpetrado pelo grupo terrorista Hamas em 7 de outubro de 2023 – que matou mais de mil pessoas em Israel – e a resposta militar israelense subsequente em Gaza, o mundo vem assistindo a uma inquietante escalada do antissemitismo. Um relatório divulgado neste ano pela Universidade de Tel Aviv evidencia essa realidade com números preocupantes.

Ainda que 2024 tenha registrado alguma redução do número de casos de antissemitismo, os dados gerais mostram crescimento em diversos países: no Brasil, foram 1.788 incidentes antissemitas em 2024, contra 1.410 no ano anterior e 432 em 2022. O aumento é alarmante, e vem acompanhado de manifestações hostis em espaços públicos e nas redes sociais contra judeus

Manifestação de apoio ao Hamas – que tem como objetivo a eliminação de Israel e dos judeus – também se tornaram comuns. Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), por exemplo, um “ato político” foi realizado na última semana para manifestar apoio ao grupo terrorista Hamas e aos atos criminosos do dia 7 de outubro de 2023. Além do grupo palestino, outras organizações terroristas foram saudadas e, do lado de fora, eram vendidas camisetas do Hezbollah. Nos intervalos, o público entoava cantos e gritos como "do rio ao mar, a Palestina triunfará", slogan do Hamas que conclama o fim de Israel.  

Outros países apresentam quadros semelhantes. A Austrália registrou 1.713 casos em 2024, ante 1.200 em 2023. Na Itália, os números quase dobraram – de 454 para 877. No Canadá, a organização judaica B’nai Brith contabilizou 6.219 episódios, o maior número já registrado no país. Nos Estados Unidos, o avanço também é visível: Nova York teve 344 incidentes em 2024 (contra 325 em 2023), e Chicago, 79 (contra 50). Mesmo cidades como Londres e Berlim, onde houve recuo, mantêm níveis superiores aos registrados em 2022.

Os dados e os episódios recentes devem servir de alerta. O antissemitismo é uma ideologia assassina, que matou em massa no século XX e continua a ferir, perseguir e ameaçar judeus ao redor do mundo. Sua manifestação moderna, que já faz vítimas ao redor do mundo, não pode ser tolerada, devendo ser desmascarada e combatida com firmeza.

A crítica à atuação de Israel em Gaza e no Líbano – no contexto de seu esforço para neutralizar ameaças representadas pelo Hamas e pelo Hezbollah – é válida dentro dos marcos do debate democrático. Questionar decisões militares ou estratégias adotadas por um Estado faz parte do exercício legítimo da opinião pública. No entanto, o que ultrapassa todos os limites da legitimidade é a desumanização e o desprezo, bem como a violência sob qualquer forma, baseados na origem nacional ou pertencimento étnico de um povo – o abjeto racismo em sua essência. A civilização já conheceu os horrores que nascem do antissemitismo e não pode permitir que eles se repitam.


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