08.07.25 | Brasil

“Brics encara incoerências”

Artigo de Merval Pereira, em O Globo, desta terça (8), destaca as incoerências do Brics, em sua declaração final em encontro que terminou na segunda (7) no Rio de Janeiro, e critica o Brasil por se afastar das principais potências ocidentais para se aliar a ditaduras do Oriente Médio. “Eventuais acertos do grupo, como a ideia de negociar com suas moedas, perdem-se diante do acúmulo de incoerências e da defesa de ditaduras e invasões”.

“Tão extenso quanto incoerente, o documento final é escancaradamente partidário. Defende o Irã contra ataques dos Estados Unidos e Israel, esquecendo que o país financia grupos terroristas como Hamas e Hezbolah. Não se refere à Rússia na guerra contra a Ucrânia, país invadido que reage heroicamente à agressão de sua soberania territorial. Elogia o multilateralismo, mas classifica a ONU como organismo defasado, entregue aos países que venceram a Segunda Guerra Mundial — crítica correta, mas que carrega toda a incoerência do bloco. Um dos países que travam as decisões da ONU no Conselho de Segurança é a Rússia, que usa seu poder de veto da mesma maneira que os Estados Unidos”, diz o artigo.

“A política externa brasileira se baseia cada vez mais na manutenção de uma relação cordial com países que têm importância na geopolítica de um mundo que no futuro, na visão dos analistas governamentais, será muito mais próximo dos países hoje periféricos que tentam se desenvolver do que da Europa e dos Estados Unidos. O Brasil faz uma escolha, aposta num futuro que nada indica que vá chegar tão cedo, se afastando das principais potências do Ocidente, para se aliar a ditaduras do Oriente Médio, da Rússia e da China. O “Sul Global” antagoniza o “Norte Global” na tentativa de antecipar um futuro que não parece tão próximo”.

Diz ainda o artigo:

“O que originalmente era apenas uma espécie de truque de economista para prospectar o futuro e deixá-lo mais inteligível para o comum dos mortais hoje transformou-se em geleia geral que inclui mais ditaduras do que democracias. São integrantes do Brics: Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia, Irã, Bielorússia, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão”, destaca o artigo.

Editorial de O Estado de S.Paulo desta terça (8) aborda o encontro do Brics, questionando a hipocrisia do Irã, ao manifestar sua infame “posição histórica”, enviando ao bloco uma carta na qual “expressa reservas à ideia de dois Estados (um israelense e outro palestino) proposta na declaração final dos líderes”. “A declaração também condena, sem jamais citar EUA e Israel, os ataques militares ao Irã, como se um dos principais objetivos do regime dos aiatolás não fosse o de varrer Israel do mapa”. E “a julgar pela declaração, a Rússia jamais invadiu a Ucrânia, que há mais de três anos sofre com a impiedosa campanha imperialista de Putin, campanha essa que matou ou feriu mais de 2,5 mil crianças em território ucraniano, segundo o Unicef, a agência da ONU para a infância”, diz o texto.

Editorial da Folha de S.Paulo publicado no sábado (5) também comenta o encontro do Brics e a atual política externa brasileira. “Menos promissora mesmo parece a reunião do Brics, fórum criado com ajuda do empenho do petista a partir de uma perspectiva ideológica obsoleta baseada em antiamericanismo. Não à toa, o grupo é visto como antagonista ao Ocidente. O cenário convulsivo no Oriente Médio e descompassos nas agendas podem justificar o esvaziamento —além, é claro, da ordem internacional de prisão contra o russo Vladimir Putin. Não explicam, porém, a ausência de Xi Jinping. A China, maior economia do bloco, prioriza neste momento a contenção de atritos comerciais com os Estados Unidos. Não passa despercebida a complacência do Brasil com Moscou — incoerente com sua condenação à invasão russa da Ucrânia — e com o Irã, teocracia que desafia a aversão brasileira à proliferação de armas nucleares. Tampouco são ignoradas a crescente diluição do diálogo com os EUA e a resistência em recompor relações com Israel, canal indispensável até mesmo para atuar em favor dos palestinos. Não deixa de ser sintomático que o Itamaraty tenha caído no ridículo, nesta semana, de contestar formalmente um texto da revista britânica The Economist sobre a distância entre as ambições da política externa de Lula e sua real importância no mundo. É exatamente o que está sendo demonstrado agora”.


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