13.10.25 | Mundo

“Quando o ódio cansa de si mesmo”

Em artigo no Zero Hora nesta segunda-feira (13), o jornalista Gabriel Sant'Ana Wainer comenta o acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas e prevê a esperança concreta de um período de estabilidade na região. Leia a seguir a íntegra do texto:

Dois anos depois do ataque mais brutal ao povo judeu desde o Holocausto, o mundo assistiu, enfim, a uma cena que parecia impossível: os reféns israelenses voltando para casa. Vinte pessoas, sequestradas e mantidas torturadas nos túneis de Gaza, atravessaram de volta a fronteira e foram recebidas com lágrimas, bandeiras e um silêncio ruidoso que só quem já perdeu a fé entende o que significa recuperá-la.

A guerra começou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas, o grupo terrorista que governa Gaza desde 2007, invadiu Israel com uma crueldade que o tempo não vai apagar. Mataram idosos, mulheres, crianças, árabes israelenses e até ativistas judeus que defendiam o direito palestino à autodeterminação e se posicionavam contra o governo Netanyahu. Desde então, o mundo viveu dois anos de horror, retaliações e impasses.

No fundo, essa guerra não nasceu de um míssil, mas de um medo antigo. Quando Donald Trump costurou os chamados Acordos de Abraão, que normalizaram as relações de Israel com Emirados Árabes, Bahrein, Marrocos e Sudão, os palestinos se sentiram abandonados pelos “irmãos árabes”. O Hamas respondeu do único jeito que conhece: com sangue e terror. Porque um Oriente Médio que se aproxima da paz ameaça a existência de quem vive do caos.

Mas o tempo, teimoso, corrige seus monstros. Dois anos depois, o mesmo Trump, um dos homens mais truculentos e odiados do planeta, aparece em Jerusalém fazendo algo que muitos líderes carismáticos jamais conseguiram: devolver gente viva para casa e entregar a esperança concreta de um período de estabilidade na região. Ainda não é paz, mas já é justiça poética. Não é redenção, mas é o primeiro fôlego de humanidade depois de um longo mergulho na barbárie.

Foi assim também com Winston Churchill. Outro homem duro, arrogante, cheio de arestas, que acabou promovendo uma reprogramação do mundo após a Segunda Guerra e garantiu décadas de estabilidade ao planeta. Às vezes, os líderes que a história escolhe não são os que gostaríamos, mas são os que a realidade permite.

No Knesset, o parlamento israelense, Trump e Netanyahu dividiram o púlpito como personagens improváveis de um mesmo capítulo. O americano falou em “nova aurora no Oriente Médio” e disse que “o longo e doloroso pesadelo finalmente acabou”. Netanyahu o chamou de “o maior amigo que Israel já teve na Casa Branca” e reconheceu: a guerra terminou, mas o trabalho da paz está só começando – e ele diz que está comprometido com isso.

Trump empurrou e o mundo, enfim, parece se mover. No Egito, começa hoje uma cúpula com mais de vinte países discutindo o futuro de Gaza. E até a Indonésia, o maior país muçulmano do planeta, que nunca reconheceu Israel e não mantém relações diplomáticas com o país, acena com uma possível visita histórica de seu presidente a Jerusalém. Sinais, ainda frágeis, de uma era que tenta nascer.

Hoje, o piano de Alon Ohel, o jovem músico sequestrado no Festival Nova, voltou a ser tocado. As filhas de Omri Miran, que por dois anos esperaram o pai, finalmente o abraçaram. E quem sobreviveu a esses 24 meses de medo pôde respirar de novo.

Talvez seja cedo para chamar isso de paz. Mas, por um instante, pareceu que a humanidade voltou a ensaiar a própria melodia.

Aproveitemos esse início de canção para dançar conforme esta música, e não mais conforme o compasso das explosões e dos fuzis.


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