21.11.25 | Brasil

“Antissemitismo nas Arcadas”

Editorial de O Estado de S.Paulo desta sexta (21) aborda o episódio ocorrido na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo em que o cientista político Andre Lajst foi impedido de falar. “Os alunos que impediram um judeu de falar são antissemitas que exploram a causa palestina como desculpa para destilar seu ódio. Que a direção da Faculdade de Direito da USP identifique esses estudantes violentos e os puna com rigor, para que não manchem a memória daqueles que lutaram pela tolerância, pelo diálogo e pela liberdade nas Arcadas”. Leia a seguir a íntegra do texto:

Palco de eventos históricos em defesa da liberdade e da democracia, as Arcadas do Largo de São Francisco viveram uma noite profundamente triste nesta semana. No dia 17 passado, baderneiros fizeram de tudo para impedir que um cientista político judeu, André Lajst, conseguisse falar num debate sobre Israel e os aspectos legais da guerra em Gaza, realizado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Foi o dia em que o grito sufocou o diálogo, o ódio atacou as ideias e o cinismo venceu a inteligência na velha Academia de Direito, também conhecida, ora vejam, como Território Livre. Esse episódio ilustra bem a perigosa escalada do silenciamento naquela que é considerada a melhor universidade do País.

Sob a alegação de denunciar o que chamam, equivocadamente, de genocídio palestino, estudantes de Direito e militantes de fora da USP interditaram, aos berros, a realização do evento intitulado Conversas sobre o Mundo. Mas o ambiente universitário deveria ser justamente o contrário disso. E, no Auditório Goffredo da Silva Telles Júnior – o professor que durante a ditadura leu a Carta aos Brasileiros nas Arcadas para defender a liberdade –, não houve conversa.

Os dias que antecederam o evento organizado pela professora de Direito Internacional Maristela Basso já indicavam essa degeneração moral de parte dos uspianos. O Centro Acadêmico XI de Agosto publicou nas redes sociais que repudiava “veementemente” a presença de André Lajst na faculdade por se tratar de um “notório sionista” – como se defender a existência de Israel fosse, em si, um crime hediondo. Em outras palavras, Lajst foi impedido de falar não em razão de suas opiniões, que não puderam ser expostas, e sim em razão de ser quem é – um judeu que defende o direito de Israel existir.

A hostilidade aos judeus, usando como pretexto a causa palestina, infelizmente parece estar em alta na USP. Há pouco tempo, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) rompeu um convênio com uma universidade israelense para protestar contra as ações de Israel em Gaza. Por outro lado, manteve intactos convênios com universidade da Rússia, que invadiu a Ucrânia numa guerra de caráter claramente imperialista. O tratamento desigual dado pela FFLCH a Israel e à Rússia fala por si.

Essa hostilidade precisa ser combatida por professores, diretores e a reitoria da USP. Os gestores devem assegurar a convivência harmoniosa nas unidades, garantir a segurança de alunos, funcionários e professores judeus, promover a livre circulação de ideias, incentivar a produção do conhecimento sem vieses ideológicos e coibir as práticas truculentas de grupelhos que se infiltram na universidade para prejudicar a vida acadêmica.

Os alunos que impediram um judeu de falar são antissemitas que exploram a causa palestina como desculpa para destilar seu ódio. Que a direção da Faculdade de Direito da USP identifique esses estudantes violentos e os puna com rigor, para que não manchem a memória daqueles que lutaram pela tolerância, pelo diálogo e pela liberdade nas Arcadas.


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