01.07.22 |
Polícia abre inquérito para apurar caso de homem com braçadeira nazista em MG
A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito para apurar o caso do homem flagrado com uma braçadeira vermelha com uma suástica ao centro - ao estilo daquelas usadas por oficiais da Alemanha nazista - na cidade de Unaí (MG), a 600 km de Belo Horizonte. O homem foi identificado como José Eugênio Adjuto, de 57 anos. Conhecido como Zecão Adjuto, ele é pecuarista, dono de uma empresa que cria bois para corte, em Unaí. Testemunhas foram ouvidas nesta segunda na 1ª Delegacia de Polícia da cidade. O artigo 20 da Lei nº 7.716, de 1989, diz 'que fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo' é crime. A pena é de dois a cinco anos de prisão e multa. O homem foi fotografado em um bar, no sábado (14), à noite, vestindo o adereço no braço. O inquérito foi aberto pela repercussão nas redes sociais. A Polícia Militar foi acionada por frequentadores do local e enviou viaturas, mas, segundo testemunhas, não o abordou. Em nota, a PM diz que os policiais que estiveram no local não entenderam que o caso se encaixaria no primeiro parágrafo do artigo 20 da lei de racismo (7.716/1989), que prevê reclusão de de dois a cinco anos e multa. Para os PMs, o uso da braçadeira em local público não se enquadrava nos casos citados na lei. A nota diz que o homem foi orientado a tirar a faixa, 'para evitar problemas de segurança que poderiam advir em razão da indignação de outras pessoas presentes'. Os policiais registraram um boletim de ocorrência interno, que é encaminhado pelo Comando da Unidade. Um procedimento administrativo foi instaurado para apurar se a atuação e o protocolo adotado foram adequados. A Polícia Militar diz que o homem foi abordado por policiais, mas pessoas que estavam no local afirmam que os agentes apenas conversaram com o gerente do bar. E que foi ele quem pediu que o homem tirasse a braçadeira. Uma nota divulgada pelo bar, no domingo (15), diz que o ocorrido foi 'resolvido da melhor maneira possível, por agentes policiais (sem violência) e sob a égide da lei'. Um vídeo de cinco minutos mostra policiais falando com um homem de camisa preta, que seria o gerente, enquanto o homem com a braçadeira permanece sentado. A polícia vai embora e o homem que trabalha no bar se dirige ao outro, que aponta duas vezes para o braço enquanto conversa, mas fica no local. Uma pessoa, que pediu para não ser identificada, conta que a PM foi acionada por volta das 19h30 e o homem deixou o local às 21h50. Ele só tirou a faixa três minutos antes de sair. O advogado Danilo Caetano foi chamado por conhecidos, depois que as fotos começaram a circular. Quando chegou ao bar, as viaturas não estavam mais lá, mas o homem permanecia no local, com o adereço nazista. 'A situação é preocupante, porque todo mundo sabe o que foi o nazismo, o terror que aquele símbolo representa, e alguém ostentar aquilo no meio das pessoas assim, sem providência alguma ser tomada, nos deixa com sensação de impotência', diz. O regime nazista, que vigorou na Alemanha entre 1933 e 1945 sob liderança de Adolf Hitler (1889-1945), foi responsável pela morte de seis milhões de judeus e de ciganos, eslavos, comunistas, socialistas e LGBTs, em nome da supremacia da raça ariana. O gerente do bar disse que prestou depoimento à Polícia Civil e não estava autorizado a dar declarações sobre o caso. Valdemiro da Silva, alfaiate na cidade, conta que foi procurado por ele ainda no sábado, pedindo que fizesse uma braçadeira. Quando viu o símbolo, o alfaiate rejeitou o trabalho. 'Ele tentou me convencer que aquilo não era o símbolo nazista. Pelo entendimento que eu tenho, que o mundo inteiro tem, aquilo é o símbolo nazista', disse ele.